Na madrugada desta terça-feira, 10, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi diagnosticado com hemorragia intracraniana e teve de realizar às pressas uma trepanação. A condição foi identificada por exame de imagem, após o chefe do Executivo apresentar dores de cabeça.
A hemorragia intracraniana, como o nome sugere, é o sangramento dentro da caixa do crânio. No caso do presidente, a causa foi uma queda no banheiro do Palácio da Alvorada, por isso a hemorragia é considerada do tipo traumática (causada após um impacto na cabeça).
“Qualquer um que bate a cabeça muito forte pode ocasionar esse tipo de sangramento”, diz Alexandre Bossoni, neurologista do Hospital Santa Paula.
Nessas situações, o sangue pode se acumular lentamente sob a membrana que cobre o cérebro, formando um coágulo (hematoma). Pessoas idosas e indivíduos que fazem uso de aspirina ou anticoagulantes estão mais propensos a desenvolver hematomas, mesmo após traumas leves na cabeça.
Quais são os tipos de hematomas?
Os hematomas cerebrais são classificados de acordo com sua localização.
- Epidural: o sangramento ocorre entre o crânio e a camada mais externa que cobre o cérebro, chamada dura-máter.
- Subdural: acontece na superfície do cérebro.
- Intracerebral: ocorre dentro do próprio tecido cerebral e é considerado um quadro mais grave.
Hematoma subdural crônico
O hematoma subdural, como ocorreu com Lula, pode ser classificado em agudo, quando há ruptura de artéria e risco de coma, ou crônico, quando o sangue vai se acumulando lentamente na região intracraniana.
No caso do presidente, acredita-se em hematoma do tipo crônico — forma comum em idosos que tiveram algum trauma e o mais comumente tratado por meio de trepanação, segundo Eduardo Vellutini, neurocirurgião do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
“Ele acontece geralmente após um trauma leve na cabeça, muitas vezes esquecido ou nem percebido, especialmente em pessoas mais velhas”, diz Wuilker Knoner Campos, presidente da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN).
Por que uma cirurgia semanas depois do acidente?
”Esse sangramento se acumula ao longo de semanas ou meses, comprimindo o cérebro e causando sintomas progressivos”, afirma Campos.
Além disso, segundo Reynaldo Brandt, neurocirurgião do Hospital Israelita Albert Einstein, hemorragias intracranianas semanas ou poucos meses após um trauma não são raras, especialmente na terceira idade.
“Deve-se ao fato de haver maior fragilidade de vasos sanguíneos cerebrais e maior espaço dentro do crânio, com a redução do volume cerebral, permitindo um deslocamento de cérebro consequente ao trauma, por mecanismos de desaceleração das estruturas nervosas”, explica.
Sintomas e diagnóstico
A dor de cabeça intensa é o principal sintoma da hemorragia intracraniana. Também podem ocorrer mal-estar, alterações visuais, sonolência e, por vezes, náuseas e vômitos. Esses sinais podem ser acompanhados ainda de perda de movimentos, força e sensibilidade em partes do corpo.
“É importante reforçar que cada hemorragia pode se manifestar com diferentes tipos de sintomas. Por isso, a orientação é sempre procurar o médico na presença de algum sintoma estranho ou diferente”, alerta Bossoni.
Já o diagnóstico é relativamente simples e é obtido com auxílio de tomografia computadorizada ou ressonância magnética da região do crânio.
Quais os riscos? Há sequelas?
As consequências dependem do local, tempo de desenvolvimento e intensidade do sangramento. Em hematomas intracerebrais, o risco de sequelas é maior. Já nos subdurais, uma vez drenado o hematoma, costuma-se alcançar a recuperação completa.
Segundo Bossoni, se o doente nessa situação não apresentava nenhum quadro neurológico, apenas a dor de cabeça, dificilmente terá sequelas. “Continua a vida como antes, sem mudanças”, comenta.
Tratamento
Brandt explica que o tratamento para hematomas cerebrais consiste em remover o sangue coagulado. Se o hematoma estiver na área que envolve o cérebro (chamada de espaço meníngeo) e já tiver se transformado em um líquido, o tratamento pode ser feito com um procedimento chamado trepanação, que consiste em drenar o líquido sanguíneo. Foi o que fez a equipe médica de Lula.
Se o hematoma for sólido, pode ser necessária uma cirurgia chamada craniotomia, em que uma parte do osso do crânio é retirada para a remoção do coágulo.
Já nos casos em que o sangramento é pequeno e não causa sintomas, o médico pode optar por apenas observar a evolução do quadro com exames de imagem. Se o corpo conseguir reabsorver o coágulo sozinho, não é preciso realizar nenhuma intervenção. Porém, se o hematoma aumentar, é necessária cirurgia.