Todo ano, oncologistas do mundo inteiro reúnem-se em Chicago, nos Estados Unidos, para conferir as últimas descobertas no tratamento e diagnóstico do câncer. Em 2024, mais de 40 mil profissionais de saúde participaram do congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco, na sigla em inglês), o maior do setor no planeta, encerrado na última terça-feira (4). As novidades são boas em diversas áreas: câncer de mama, de pele, de intestino e em cuidados paliativos.
Entre os estudos apresentados, Rudinei Linck, oncologista clínico do Hospital Sírio-Libanês, destaca o DESTINY-Breast06, que demonstrou a eficácia da droga Trastuzumabe Deruxtecana em pacientes com câncer de mama com receptor de hormônio positivo metastático, após terapia hormonal. O medicamento mostrou-se superior à quimioterapia tradicional, oferecendo maior potência e tempo de controle da doença. “A tecnologia de anticorpo-droga conjugada, como a deste medicamento, permite que o remédio seja direcionado com maior concentração sobre o tumor, o que poderíamos chamar de quimioterapia-alvo”, explica o médico.
Em outra frente, a boa notícia vem para aqueles com câncer de intestino e metástase no fígado. A pesquisa TransMet comparou o efeito da quimioterapia e desse tratamento combinado com transplante hepático em 94 pessoas — não é pouco, em se tratando de uma cirurgia desse porte. A sobrevida dos transplantados foi de 57% em cinco anos, ante 13% do primeiro grupo. “O resultado trouxe uma nova estratégia de tratamento para essas pessoas. Até poucos anos atrás, a gente nunca falaria em transplante para um paciente com câncer metastático”, aponta Alessandra Corte Real Salgues, oncologista clínica do Hospital Sírio-Libanês – Unidade Itaim. Salgues ressalta também o estudo NADINA, apresentado em uma sessão Plenária, dedicada às descobertas de maior relevância do evento. No trabalho, cientistas avaliaram pacientes com diagnóstico avançado de melanoma, um câncer de pele agressivo. A combinação de dois ciclos de imunoterapia (com ipilimumabe e nivolumabe) antes da cirurgia para a retirada do tumor — em vez de depois dela — diminuiu o risco de recidiva da doença. “Quase 60% dos pacientes não precisaram de tratamento complementar, reduzindo assim potenciais toxicidades adicionais e custo para os pacientes”, celebra a médica.
Outro assunto que mereceu destaque na Plenária foi o cuidado paliativo. Uma pesquisa mostrou que as consultas remotas são tão eficazes quanto as presenciais para a qualidade de vida de pessoas com tumor de pulmão avançado. O estudo está alinhado com o título do evento neste ano: A arte e a ciência do tratamento do câncer: do conforto à cura. “O cuidado paliativo é algo super importante, que também está em evidência no Brasil, pleiteando o reconhecimento frente aos planos de saúde”, afirma Gabriel Clemente de Brito Pereira, oncologista clínico do Hospital Sírio-Libanês – Unidade Brasília. O Hospital Sírio-Libanês foi pioneiro no Brasil ao criar o Programa de Cuidados Paliativos em 2008, em São Paulo, e 2016, em Brasília. Referência nacional na área, o núcleo soma mais de 1.500 pacientes atendidos.
O Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês trabalha de forma multidisciplinar e personalizada, com especialistas nos mais diversos tipos de tumores. Esse olhar dedicado permitiu aos profissionais da instituição acompanharem de perto todos os avanços de cada área da oncologia durante a Asco, trazendo para os pacientes uma medicina atualizada e individualizada.
Temas como sustentabilidade frente a custos crescentes e garantia de acesso ao maior número de pacientes estiveram também na mesa de debates da Asco. “Temos visto avanços expressivos no tratamento do câncer, como a incorporação de novas medicações e tecnologias. Porém, não podemos nos esquecer que o foco deve estar sempre no cuidado integral com o paciente”, diz Pereira.
Para Linck, a conferência é fundamental para que os especialistas se mantenham atualizados sobre os avanços no tratamento do câncer. “Participar do congresso da ASCO nos traz grande satisfação, pois a cada ano podemos trazer aos nossos pacientes novidades e avanços que aprimoram os tratamentos destes que lutam contra uma doença tão desafiadora”, diz.