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Câncer de endométrio: diagnóstico precoce e acesso à informação são essenciais no combate à doença

by Medicina Saúde
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O endométrio é a camada interna do corpo uterino que a cada mês se espessa e descama, sendo eliminada na forma de menstruação. O câncer de endométrio é uma neoplasia, ou seja, um crescimento anormal de células do corpo, que se forma nessa camada interna do útero. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), esse câncer afeta cerca de 7,8 mil brasileiras por ano, além de ser considerado o sexto mais comum entre as mulheres do País.

Maiara Peres foi diagnosticada com câncer de endométrio aos 28 anos, uma idade considerada atípica para o desenvolvimento da doença Foto: Acervo pessoal

Fatores de risco, sintomas e sinais

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A doença apresenta diferentes subtipos e é uma neoplasia de muita importância nas mulheres brasileiras. “Entre os fatores de risco desse câncer, estão a menarca precoce, antes dos 12 anos, e a menopausa após os 52 anos. Mulheres que nunca tiveram filhos, que têm idade acima dos 50 anos, obesidade, diabetes, ou que realizaram terapia de reposição hormonal de maneira inadequada após a menopausa também têm mais chances de desenvolver o câncer”, explica Angélica Nogueira, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc) e responsável pelo Programa OC Mulher da Oncoclínicas&Co.

A boa notícia é que, na maioria dos casos, o câncer de endométrio é diagnosticado cedo. “Isso acontece porque ele é um câncer que provoca sintomas por ser mais incidente entre as mulheres na pós-menopausa, ou seja, aquelas mulheres que já deixaram de menstruar. Então, quando elas apresentam alguns sintomas de sangramento vaginal, costumam procurar assistência médica mais rápido”, explica Andréia Melo, líder da especialidade Tumores Ginecológicos da Oncoclínicas.

A especialista ainda completa: “Esse diagnóstico precoce é fundamental não só para o câncer de endométrio, mas para qualquer neoplasia, porque isso tem relação direta com o prognóstico. Quanto antes for realizado o diagnóstico, certamente essa paciente vai ter um melhor resultado oncológico, seja com menor quantidade de tratamento, menor morbidade desse tratamento, menor impacto em qualidade de vida e maior sobrevida, menor chance de recidivas”.

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De olho nos sintomas… e nas exceções!

No caso do câncer de endométrio, os sintomas são sangramentos fora do período menstrual, sangramento na mulher pós-menopausa, algum corrimento diferente e desconforto pélvico. Por isso, mesmo fora do grupo de risco, é preciso ficar sempre atenta. Para Maiara Peres, 39 anos, graduanda em Serviço Social e membro do Comitê de Pacientes do Instituto Oncoguia, a jornada não foi simples porque ela foi diagnosticada com câncer de endométrio aos 28 anos, uma idade considerada atípica para o desenvolvimento da doença. “Meus sintomas foram fraqueza, sangramentos menstruais anormais em quantidade e duração de 20 a 30 dias, inchaço abdominal, dor pélvica que irradiava para a lombar, perda de apetite, náusea e perda de peso. Passei por nove médicos de abril a outubro de 2014″, descreve. E completa: “Quando o resultado saiu, senti um alívio de saber o que de fato tinha, que não era estresse ou sintomas psicossomáticos. Eu sei que ter um diagnóstico de câncer de endométrio aos 28 anos é raro, mas faltou qualidade nos médicos que me atenderam, em me examinar, em considerar qualquer outra possibilidade antes de dizerem que é normal sangrar até desmaiar”.

Caminho para um diagnóstico correto

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O diagnóstico do câncer de endométrio pode ser realizado com exames clínicos e de imagem. A ultrassonografia transvaginal e, se necessário, uma biópsia do endométrio podem ser feitas. Exames como histeroscopia (visualização do interior do útero com uma câmera) e tomografia computadorizada podem ser utilizados em um segundo momento, para avaliação e planejamento do tratamento.

Outro caminho é a pesquisa de biomarcadores do tumor, que identificam genes, proteínas e outros fatores específicos exclusivos do tumor. Os resultados desses testes podem ajudar a definir as opções de tratamento.

O oncologista Breno Jeha Araújo, especialista em genômica clínica da Oncoclínicas, destaca a complexidade da doença: “No câncer de endométrio, mais usualmente, encontramos o que chamamos de adenocarcinoma endometrioide de endométrio. No entanto, existem outros tipos, como o adenocarcinoma mucinoso de endométrio. A identificação precisa do subtipo do tumor é crucial para definir o tratamento mais adequado”.

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Avanços essenciais e testagem molecular

Nos últimos dez anos, os avanços no tratamento do câncer de endométrio têm sido significativos. “Atualmente temos quimioterapia, imunoterapia e medicina especializada”, destaca Maiara, que acompanhou de perto essa evolução desde seu diagnóstico em 2014. “Hoje nós tentamos cada vez mais aplicar intervenções de acordo com características específicas de cada indivíduo. Isso é cada vez mais utilizado na oncologia”, explica Andréia.

O câncer de endométrio pode estar associado a uma condição genética conhecida como Síndrome de Lynch, que causa mutações em genes responsáveis pelo reparo do DNA. Quando ele é danificado, aumentando não apenas o risco de câncer de endométrio, mas também de intestino.

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Por isso, a identificação de mutações genéticas não serve apenas para o diagnóstico, mas também é importante para toda a família. Algumas das indicações podem ser as chamadas cirurgias redutoras de risco, como a retirada de ambas as mamas e dos ovários e trompas de Falópio. “A testagem molecular nos auxilia a realmente entender qual é esse subtipo de tumor que estamos diante”, explica o oncologista Breno Jeha Araújo, especialista em genômica clínica da Oncoclínicas. “Quando existe um tratamento guiado para alteração molecular, temos melhores chances de resposta do que com o tratamento não personalizado”, completa.

Por outro lado, um dos principais desafios no enfrentamento da doença é a disparidade no acesso aos testes moleculares entre o sistema público e o privado de saúde. “Isso ainda é uma limitação no cenário de saúde pública. Alguns testes, como testes de imuno-histoquímica, anátomo-patológico, estão sim disponíveis, e eles são exatamente essenciais para a jornada diagnóstica dos pacientes. Mas os testes moleculares buscando mutações no DNA, com uma tecnologia de sequenciamento do DNA, ainda possuem um custo financeiro elevado”, avalia Breno.

Por isso, os avanços dependem, também, do acesso à informação. “Em 2024 o EVA, grupo brasileiro de tumores ginecológicos, publicou a primeira cartilha sobre câncer de endométrio e eu tive a alegria de contribuir com a visão das pacientes e participar desse projeto promotor de conscientização e qualidade de vida”, comemora Maiara.

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“Sabemos que há muitos tabus que envolvem os tumores ginecológicos, o pudor com o próprio corpo, a não validação dos médicos quando relatamos nossas dores”, complementa. Por isso, a luta contra o câncer de endométrio exige um esforço conjunto da sociedade, de profissionais de saúde e gestores públicos. Como destaca Maiara, “o câncer é um problema de todos”, e apenas com informação, acesso ao diagnóstico precoce e tratamento adequado será possível reduzir seu impacto na saúde das mulheres brasileiras.

Fonte: Externa

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