O Fundo Phoenix, administrado pela Trustee DTVM, e que tem entre seus cotistas o empresário Nelson Tanure, venceu o primeiro leilão de privatização do governador do Estado de São Paulo Tarcísio de Freitas. Com ágio de 33,68%, o fundo arrematou a estatal Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia) por R$ 1,04 bilhão.
As ações da empresa, que se mantinham estáveis até o início do leilão, despencou durante a disputa. Até as 16h38, os papéis derretiam 32,89%.
Além do Fundo Phoenix, participaram da disputa a Matrix Energy – ligada à comercializadora Matrix Energia, empresa detida pela DXT International S.A. (50,01%), parte do Grupo Duferco, e por fundos de investimento sob gestão da Prisma Capital (49,99%) – e o grupo francês EDF. A disputa ocorreu na tarde desta sexta-feira, na B3, na capital paulista.
O vencedor do certame passará a gerir um ativo com 906 megawatts (MW) em geração hidrelétrica suficiente para abastecer 825 mil residências na Grande São Paulo. A hidrelétrica de Henry Borden (889 MW) é o principal ativo da empresa, inaugurada em 1920 e localizada no pé da Serra do Mar.
O portfólio conta ainda com outras três Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH), oito barragens e duas usinas elevatórias. A empresa também tem papel importante no controle das cheias no Estado, regulando os níveis dos rios Pinheiros e Tietê e ajudando a prevenir alagamentos. Para isso, é feito o bombeamento das águas do rio para o Reservatório Billings.
Outro serviço prestado pela Emae é a travessia por meio de balsa. A empresa transporta diariamente pessoas e veículos nas travessias Bororé, Taquacetuba e João Basso. “Mensalmente, o serviço da Emae realiza uma média de 14 mil viagens e transporta gratuitamente 161 mil passageiros e 158 mil veículos”, informou o Governo do Estado.
Embora seja uma empresa pequena, a privatização da Emae tem grande significado para Tarcísio de Freitas, que consegue avançar com um processo que vinha sendo considerado um teste para a privatização da Sabesp.
No ano passado, a Emae teve receita líquida de R$ 603 milhões e valor de mercado, de R$ 2,3 bilhões. Além do governo paulista, participam da composição acionária da estatal a Companhia Metropolitana de São Paulo, a Eletrobras e uma parcela minoritária com outros acionistas. A fatia à venda corresponde às participações do governo e do Metrô, que somam quase 40% da empresa.
Mauricio Quadrado, presidente do Banco Master de Investimento, gestora do Fundo Phoenix, disse que a carteira de investimentos também contará com participação de outros investidores, como os sócios do banco – como ele próprio. “Normalmente nesses fundos, a gente deixa espaço para trazer clientes, principalmente quando analisa ativos – e é empresa de capital aberto -, então vemos espaço para oferecer para clientes, mas a referência sempre é o Tanure, porque ele já está no setor”, disse ele.
Quadrado destacou ainda que a Emae “complementa a estratégia de consolidação futura” de Tanure e citou o fato de que a Light, conhecida por operar o serviço de distribuição no Rio de Janeiro, também tem ativos de geração. “É isso que nos atraiu para entrar no investimento e pagar esse ágio de 30%”.
Bem gerida
O executivo disse que a Emae “é uma empresa muito bem gerida, com caixa, sem dívida, com uma rentabilidade boa”, mas a intenção é melhorar. O plano do novo investidor é colocar uma equipe de profissionais com experiência no setor, para buscar ganhos de eficiência.
Questionado se algum ativo não interessava à companhia, ele disse que todos a princípio interessam. “A ideia é manter o que tem lá e crescer a empresa”, disse Quadrado.
“O Tanure faz isso. Ele compra a empresa e gosta de consolidar. É uma empresa de capital aberto, a Light é capital aberto, então dá para fazer uma coisa bem bacana”, acrescentou o executivo, citando estar aberto para aquisições.
Deverão ser exploradas todas as fontes do portfólio da empresa, incluindo a hídrica, a térmica, em que tem participação numa usina, e solar, por meio da instalação de placas solares flutuantes no reservatório das usinas.
Quadrado também comentou que deve conversar com a Eletrobras, acionista minoritário que detém 39% do capital da Emae, integralmente em ações preferenciais. “Eles querem conversar com a gente, estávamos esperando resolver quem seria o vencedor, sorte que somos nós, vamos ver o que vamos fazer”, disse.
Ele afirmou, porém, que inicialmente não tem interesse em comprar a fatia do grupo, que já manifestou anteriormente intenção de vender participações minoritárias. “Nas próximas semanas vamos ver o plano estratégico, se vale a pena comprar ou não, é uma conversa, uma negociação”, reforçou.
Investimentos
Após o leilão, o governador Tarcísio de Freitas reafirmou a meta de chegar a R$ 220 bilhões em investimentos contratados para o Estado, e disse que tem outros projetos estruturados, entre os quais a privatização da Sabesp.
Ele afirmou que seu governo aprendeu a estruturar projetos, e que com as privatizações e licitações será possível ter mais capital e fôlego para investimentos. “A gente realmente está focado em atrair investimentos e chegar à marca de R$ 220 bilhões.”