No primeiro e possivelmente único debate da disputa presidencial entre a vice-presidente Kamala Harris, democrata, de 59 anos, e o ex-presidente Donand Trump, de 78, os dois candidatos começaram tentando aparentar calma e disciplina. O clima cordato em que os dois se cumprimentaram com um aperto de mão durou até a primeira pergunta feita pelo mediador: “Você acredita que os americanos estão melhor do que há quatro anos?”
Em sua réplica Tump repetiu os ataques que tem feito ao presidente Joe Biden e a Kamala desde o início da campanha. “Tivemos uma economia terrível porque a inflação é realmente conhecida como um destruidor de países. Ela divide os países. Nós temos uma inflação como poucas pessoas já viram antes, provavelmente a pior na história da nossa nação”, disse Trump. A afirmação foi classificada como “falsa” pelos sites noticiosos que transmitem o debate ao vivo — eles lembraram que a inflação atingiu 9,1% em 2022, mas ponderaram que houve uma mudança na metodologia e que os EUA viveram períodos de maiores altas de preços nos anos 70 e 80.
Kamala respondeu mais tarde com outra afirmação considerada falsa pelo jornal “The New York Times”, declarando que o governo Trump tinha deixado o maior desemprego desde a Grande Depressão. Trump deixou o governo com 6,4% de desempregados em meio à pandemia — algo que não chega nem perto ao número da Depressão.
Trump passou a desfiar seu arsenal de insultos, qualificando Kamala de “marxista”. A vice-presidente parecia ironizar colocando a mão no queixo e olhando na direção do adversário.
Kamala foi preparada por sua equipe para reagir com um tom contido aos insultos e comentários mais depreciatvos do ex-presidente. Trump recentemente qualificou Kamala de uma pessoa “desagradável”, questionou a identidade dela como negra, disse que ela não tinha inteligência e até mesmo fez comentários rasos de cunho sexual sobre o sucesso que obteve em sua carreira de promotora.
Depois de um início aparentando nervosismo, Kamala foi se sentimento mais confiante na medida em que o debate avançava e Trump a atacava com argumentos já conhecidos, como o de “milhões de imigrantes” chegando ao país, “vindos de prisões, hospícios e asilos para loucos”.
Na questão sobre imigração, Kamala manteve o republicano na defensiva ao lembrar que o Senado havia aprovado um projeto de lei bipartidário para reforçar o policiamento na fronteira para conter o contrabando de armas e drogas, que foi derrubado na Câmara a pedido de Trump. O ex-presidente prefere manter um problema que o beneficia a “dar uma solução ao problema”, afirmou Kamala.
O ex-presidente respondeu afirmando que “21 milhões de pessoas” estão cruzando a fronteira dos EUA todos os meses sob o governo Joe Biden. Um dado falso, segundo a checagem de dados da rede CNN, o número total de “encontros” nas fronteiras norte e sul de fevereiro de 2021 a julho de 2024, em ambos os portos legais de entrada e entre esses portos, foi de aproximadamente 10 milhões, muito menos do que o número de “21 milhões” de Trump.
Trump foi além em suas costumeiras afirmações sobre imigrantes criminosos. “Em Springfield, eles [os imigrantes] estão comendo os cachorros, as pessoas que entraram, estão comendo os gatos… estão comendo os animais de estimação das pessoas que vivem lá. E é isso que está acontecendo em nosso país, e é uma vergonha”, disse o ex-presidente.
A narrativa foi desmentida ao vivo pelo moderador da ABC News, David Muir. “Você menciona Springfield, Ohio, e a ABC News entrou em contato com as pessoas da cidade. Eles nos disseram que não houve relatos confiáveis de alegações específicas de animais de estimação sendo prejudicados, feridos ou abusados por indivíduos dentro da comunidade imigrante”, disse Muir a Trump.
