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Lula chama marqueteiro para fazer gestão Nísia decolar às vésperas de reforma ministerial

by Medicina Saúde
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BRASÍLIA – Em dois dias nesta semana, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, foi chamada ao gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto. Com a reforma ministerial à vista, o nome de Nísia passou a frequentar a lista das opções de troca no governo. Ao que tudo indica, porém, Lula manterá a ministra no cargo e prepara uma nova ofensiva na comunicação da pasta.

Nas reuniões de terça e de quinta-feiras, o presidente e Nísia se debruçaram sobre as principais dificuldades do ministério em termos de gestão e publicidade. A Casa Civil fará agora um monitoramento mais efetivo das ações na Saúde e estabelecerá metas, com prazos para resultados.

Lula aposta em Nísia e quer segurar ministra no cargo Foto: WILTON JUNIOR/Estadão

No Planalto, a avaliação é de que o ministério com o terceiro maior orçamento da Esplanada (R$ 239,7 bilhões) – apenas atrás de Previdência e Desenvolvimento e Assistência Social –, deveria ter mais entregas e mostrar iniciativas de peso da gestão Lula 3. O pedido do presidente é para que a Saúde tenha uma “marca”, a exemplo do que ocorreu em seus outros dois mandatos com programas como o Farmácia Popular.

Apesar das críticas, Lula gosta de Nísia e a respeita profissionalmente. Além disso, a credibilidade e o simbolismo da figura da ministra, por causa de sua gestão à frente da Fiocruz durante a pandemia de covid-19, contam a seu favor.

Para fazer a pasta deslanchar, uma das “obsessões” do presidente é o programa Mais Acesso a Especialistas (PMAE), que foi lançado em abril do ano passado, mas ainda não conseguiu pegar tração em todo o País. A iniciativa tem como objetivo reduzir o tempo de espera por cirurgias, exames e tratamentos no Sistema Único de Saúde (SUS).

Na terça-feira, 14, Lula se reuniu com Nísia justamente para saber por que o programa não está funcionando direito. Em 20 de dezembro, na confraternização de fim de ano com os ministros, o presidente também cobrou a entrega do Mais Acesso a Especialistas. “Nísia, eu não me canso de pedir isso para você”, disse ele, de acordo com relato de três participantes do encontro.

Agora, a expectativa é de que Lula volte a cobrar Nísia na reunião ministerial desta segunda-feira, 20, na Granja do Torto.

Ofensiva na comunicação

Antes mesmo de assumir oficialmente o comando da Secretaria de Comunicação Social (Secom), o publicitário Sidônio Palmeira também esteve com Nísia, na quinta-feira, 9. Palmeira foi escalado por Lula para ajudá-la a divulgar os principais programas da Saúde e a se contrapor às críticas recebidas por problemas de gestão.

Na ocasião, o diagnóstico foi o de que Nísia encontrou uma pasta destruída pelo negacionismo do ex-presidente Jair Bolsonaro e estava fazendo mais do que aparecia para o público. Nesta segunda metade do mandato de Lula, Sidônio recebeu a missão de fazer com que iniciativas do governo cheguem à população do tamanho que o Palácio do Planalto acha que elas têm.

No caso do Mais Acesso a Especialistas, integrantes do Ministério da Saúde avaliam que há uma demanda forte no País em áreas como oncologia, oftalmologia, cardiologia, ortopedia e otorrinolaringologia, que precisam de reforço.

A lista dos problemas de imagem sob crivo do marqueteiro inclui temas que estiveram na origem de outras crises na pasta, como o aumento dos casos de dengue e as dificuldades nos hospitais do Rio e no Território Yanomami. Há também questões como a escassez de vacinas em alguns Estados no ano passado e a incineração de medicamentos e imunizantes do SUS fora da validade.

Na época, o ministério disse ter enfrentado desafios momentâneos na distribuição de algumas vacinas, em razão de problemas com fornecedores e produção limitada global, mas garantiu que não havia escassez. Quanto à incineração, a pasta informou que vacinas vencidas em 2023 e incineradas eram, em sua maioria, contra a covid-19. Para a Saúde, a falta de adesão da população ao imunizante ocorreu por causa de “campanhas sistemáticas de desinformação”, que provocaram desconfiança sobre a eficácia da vacina.

Apesar das justificativas e do aumento da cobertura vacinal desde o início da gestão de Nísia – com crescimento médio de 17 pontos porcentuais em comparação com 2022, a avaliação do Planalto é de que esses temas provocaram ruído e acabaram abalando a imagem de eficiência do governo. O ministério não conseguiu explicar à população por que há queima de medicamentos fora da validade, prática comum na área.

Um levantamento feito pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) mostra que a demanda por melhores serviços de saúde quase dobrou nos últimos dois anos e hoje lidera o ranking das preocupações dos brasileiros. Em dezembro de 2024, quando foi feita a pesquisa, a maior parte dos entrevistados (30%) disse que o governo deveria dar mais atenção à saúde neste ano. Em dezembro de 2022, porém, esse patamar era de 17%.

A saúde também aparece em primeiro lugar como a área que mais teve problemas em 2024, na opinião de 18% dos entrevistados. Nesse rol estão ainda segurança (16%), inflação e custo de vida (12%), emprego e renda (10%), meio ambiente e corrupção (cada um desses temas com 9%), impostos (7%) e educação (5%), entre outros.

“A ministra Nísia tem feito muito mais do que o antecessor (Marcelo Queiroga), mas comunicado muito menos”, disse ao Estadão o cientista político Antônio Lavareda, que preside o Conselho Científico do Ipespe.

A pesquisa foi feita com 2 mil entrevistados de todas as regiões do País entre os dias 5 a 9 de dezembro. A margem de erro é de 2,2 pontos porcentuais para mais ou para menos.

Cobiça do Centrão

A menos de um mês da retomada dos trabalhos no Congresso, em fevereiro, o Centrão resolveu aproveitar os desentendimentos com o governo para voltar à carga e, mais uma vez, tentar ocupar a cadeira de Nísia. A Saúde sempre foi considerada pelo grupo como uma espécie de “feudo” do PP, partido do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL).

A pressão cresceu ainda mais porque por lá passa boa parte do dinheiro das emendas parlamentares. Não é só: há na pasta muitos cargos para distribuir e “fazer política”, como costumam dizer deputados e senadores.

Apesar das cobranças, a tendência é o ministério continuar sob domínio do PT. Historicamente, as áreas da saúde e da educação compõem a identidade dos governos petistas e foram entregues a partidos de centro apenas em momentos extremos, para tentar aplacar alguma sangria.

Foi o que aconteceu em 2015, quando, pressionada pela crise política, a então presidente Dilma Rousseff nomeou o hoje senador Marcelo Castro (MDB) para o cargo de ministro da Saúde.

Mesmo não sendo filiada ao PT, Nísia foi indicada pelo ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha – também titular da Saúde de 2011 a 2014, no governo Dilma –, e é próxima de quadros do partido.

No meio político, porém, a leitura é a de que Nísia parece sempre estar na corda bamba. A ex-presidente da Fiocruz possui como principal trunfo a relação com Lula e com a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja. Além disso, não tem pretensão de disputar qualquer cargo eletivo em 2026. Trata-se de um fator considerado importante para o governo, uma vez que, para cumprir a Lei Eleitoral, todos os ministros-candidatos terão de deixar a equipe em abril do ano que vem.

Aliados da ministra afirmam que, até o momento, não há sinais por parte do Planalto de que ela esteja no “limbo”, mas fazem um mea-culpa ao admitir que é preciso melhorar a publicidade de ações da pasta.

No ano passado, no auge da crise com os hospitais federais do Rio, o Ministério da Saúde chegou a fazer mudanças na comunicação, sob orientação de Sidônio, que foi marqueteiro da campanha de Lula, em 2022, e prestou uma espécie de “consultoria” para a ministra. Mesmo assim, há uma avaliação interna de que o problema ainda não foi totalmente resolvido.

Sinal amarelo

Um dos temas que acendem o sinal amarelo na Saúde é o número de casos de dengue no País, que costuma subir no verão. Em março do ano passado, a disseminação da doença fez esquentar a fervura em torno de Nísia, que foi cobrada por Lula durante reunião com ministros.

Em 2024, o Brasil registrou 6,6 milhões casos de dengue, mais de quatro vezes o número apresentado no ano anterior. Desta vez, no entanto, auxiliares de Nísia consideram que o ministério está mais bem preparado para lidar com a dengue porque antecipou ações para o combate à doença.

Nísia apresentou o plano para mitigação da dengue e de outras arboviroses durante cerimônia no Planalto, em setembro, com a participação de Lula. Além disso, a Saúde realizou reuniões com governadores e campanhas de comunicação sobre o tema. Um dos focos do ministério é evitar o aumento nas internações em decorrência da doença. Até o momento, o Brasil registra cerca de 52 mil casos de dengue.

Viagens pelo país

A equipe da ministra tem investido em uma agenda de viagens pelo país, com foco em pontos sensíveis da pasta, na tentativa de divulgar as ações de gestão. Neste ano, Nísia já foi para Minas Gerais, onde fez anúncios para o combate à dengue; para Roraima, onde participou de agendas relacionadas ao enfrentamento à crise Yanomami; e ao Rio de Janeiro. Lá, ela anunciou a abertura de leitos no Hospital Federal de Bonsucesso.

Nas próximas semanas, a ministra deve ir ao Rio Grande do Sul e à Bahia, onde haverá a inauguração de um hospital e entregas do SAMU. O plano é que as próximas viagens explorem bastante o programa Mais Acesso a Especialistas e o combate à dengue.

Fonte: Externa

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