O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não se deu conta dos riscos que corre na economia. A inflação americana mais alta do que o esperado pelo segundo mês consecutivo e o mercado de trabalho nos EUA ainda aquecido alteram o panorama econômico internacional. Na prática, como mostrou o Estadão esta semana, diminuem as chances de cortes de juros pelo Fed, o que reduz também a margem de manobra para a queda da taxa Selic pelo nosso Banco Central, aqui.
Nesta quarta-feira, 10, a notícia ruim nos EUA foi amenizada pela inflação mais baixa do que o esperado no Brasil. Ainda assim, o dólar fechou em alta de mais de 1% e ficou mais provável que permaneça rodando acima dos R$ 5. Economistas e investidores, logo após a divulgação do resultado nos EUA, voltaram às planilhas para refazer as contas, e pelo menos duas grandes casas já admitiam rever para cima as projeções de juros no País.
No Congresso, a base governista permanece em um mundo do faz de contas. Deputados petistas enfraqueceram mais uma vez o novo arcabouço fiscal. Despesas de R$15,7 bilhões foram antecipadas, sem a garantia de que haverá o aumento de arrecadação necessário para a autorização dessa despesa. De quebra, há o risco de que os recursos sejam usados para aumento de salários de servidores – que de fato precisam de recomposição, – mas isso precisa ser feito com um lastro permanente, e não por meio de arrecadação extraordinária.
Enquanto o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vai fazendo o que pode para tentar conter a pressão por gastos que vem de todos os lados, a Casa Civil fabrica crises internas sem sentido, em uma completa inversão do papel institucional da pasta, que deveria ser a de apagar incêndios.
A última, com a ajuda do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que tenta derrubar o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, que balança no cargo por seus méritos. A empresa está sólida, saneada, com baixo endividamento e aumento dos investimentos. A hecatombe que muitos do mercado previram com a alteração da política de preços de combustíveis não aconteceu, porque Prates é do ramo e sabe que se a companhia não der lucro o final da história é repetir o desastre da gestão Dilma Rousseff na petrolífera.
Em defesa de Lula, há um país politicamente polarizado, e ele precisa sempre falar para a própria base para mantê-la motivada e aguerrida. Mas alguém precisa alertar o presidente de que a eleição foi decidida por uma minoria liberal na economia, que pode perfeitamente mudar de lado em 2026. Não convém abusar da sorte, e, como todos sabem, na economia, o tempo sempre vira.