Considera-se o ano de 1971 como um marco da guerra que a humanidade vem travando contra o câncer. Foi quando o presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, alarmado com as estatísticas que no ano anterior colocaram a doença como segunda maior causa de mortes do país, sancionou o National Cancer Act. Na ocasião, Nixon anunciou a meta – vista hoje como ingênua – de erradicar a doença num prazo de cinco anos.
A nova legislação norte-americana aumentava as verbas para as pesquisas e ampliava o poder do Instituto Nacional do Câncer, que passou a ter o orçamento apresentado diretamente ao Congresso e ao presidente. Uma das consequências desse processo foi a criação de 15 novos centros de câncer nos Estados Unidos e de um banco de dados sistemático sobre a incidência e as características dos diferentes tipos da doença.
Hoje, há o entendimento de que câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células, que invadem tecidos e órgãos. Dividindo-se rapidamente, essas células tendem a ser agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores, que podem espalhar-se para outras regiões do corpo. Os vários tipos de câncer são classificados de acordo com a localização primária do tumor e se diferenciam pela velocidade de multiplicação das células e a capacidade de invadir tecidos e órgãos vizinhos ou distantes, conhecida como metástase.
O surgimento de um câncer está associado a uma mutação genética – ou seja, uma alteração no DNA da célula. Em decorrência dessa alteração, a célula passa a receber informações erradas para suas atividades. O processo de formação do câncer é chamado de carcinogênese ou oncogênese e, em geral, acontece lentamente, podendo levar vários anos para que uma célula cancerosa prolifere e dê origem a um tumor visível.
As primeiras tentativas de entender as causas e os mecanismos do câncer foram baseadas no velho método da tentativa-e-erro. Essa fase é fundamental para descartar possibilidades equivocadas e direcionar os esforços a pesquisas mais assertivas. Com o tempo, consolidaram-se algumas alternativas de tratamento ao câncer, que, em certas situações, podem ser aplicadas de forma combinada.
A cirurgia é indicada para a remoção do tumor, com eficácia maior quanto mais precoce for a detecção – serve também para avaliar a extensão da doença. Já a quimioterapia é um tipo de tratamento que mistura medicamentos ao sangue para levá-los a todas as partes do corpo, com o objetivo de destruir as células doentes e impedir que o tumor se espalhe. A radioterapia utiliza radiações ionizantes (raio x, por exemplo) para destruir ou impedir que as células do tumor aumentem. E o transplante de medula óssea é um tipo de tratamento proposto para algumas doenças que afetam as células do sangue, a exemplo de leucemias e linfomas.
A ‘nova imunoterapia’
O transplante de medula óssea é um tipo de imunoterapia, princípio que voltou a ganhar força recentemente com o aprimoramento das pesquisas. Baseado na ativação do próprio sistema imunológico do paciente, esse tipo de tratamento reforça a capacidade do organismo de reconhecer e destruir as células tumorais. A chamada “nova imunoterapia” está promovendo uma revolução no tratamento oncológico, pois, em muitos casos, tem se mostrado mais eficiente e menos tóxica do que os tratamentos adotados anteriormente.
“Em praticamente todos os tipos de câncer, já temos um ou dois imunoterápicos com respostas claramente superiores às proporcionadas pela quimioterapia”, entusiasma-se o oncologista Walter Henriques da Costa, gerente médico do A.C. Camargo Cancer Center, sediado em São Paulo, um dos maiores centros de referência da América Latina, que atua tanto no atendimento clínico quanto na pesquisa e no ensino. “Isso vem permitindo reverter quadros antes considerados incuráveis de cânceres como melanoma de pele, pulmão e bexiga.”
Outro grande avanço, ressalta Costa, está nas técnicas cirúrgicas minimamente invasivas, com o uso de robôs. “Mesmo intervenções complexas podem ser feitas hoje por meio de pequenas incisões, o que reduz os riscos de complicações e facilita a recuperação do paciente”, descreve.
A evolução das pesquisas transformou cada tipo de câncer em um universo à parte, com estratégias específicas de diagnóstico e tratamento. Um símbolo disso é a existência, no A.C.Camargo, de 13 centros de referência, divididos de acordo com a topografia do tumor. Cada um desses centros é integrado por especialistas – médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, entre tantos outros – que atuam exclusivamente naquele tipo específico de câncer. “Essa especialização é essencial para gerar conhecimento relevante”, acrescenta Costa.