BOGOTÁ – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva viaja na noite desta terça-feira, dia 16, à Colômbia para uma ampla agenda bilateral a convite do presidente Gustavo Petro. A agenda marca um estreitamento da relação política entre os presidentes de esquerda, que compartilham visões comuns.
Na semana passada, Petro viajou a Caracas, depois de criticar Maduro por causa do impedimento da candidatura da principal força política de oposição ao chavismo, a Plataforma Unitária. O colombiano afirmou na ocasião que defendia a paz democrática e dialogou com integrantes da oposição venezuelana para elaborar uma proposta de acordo para as eleições presidenciais de 28 de julho.
O Itamaraty diz que Petro e Lula estão “engajados” na questão venezuelana com “espírito construtivo”. Antes de decolar a Bogotá, Lula participou de uma reunião virtual de chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). No encontro, Lula criticou a invasão da embaixada do México em Quito, condenou a prisão do ex-vice-presidente do Equador Jorge Glas e pediu “salvo conduto” para que ele deixe o país.
“As ações adotadas no passado, no sentido de isolar a Venezuela só serviram para promover a presença de atores extra-regionais no país e não para superação da crise que existe várias dimensões”, disse o ministro João Marcelo Galvão, diretor do Departamento de América do Sul.
Para Galvão, as afinidades ideológicas e de visão entre Lula e Petro permitem ir além da relação comercial e econômica entre Brasil e Colômbia e promover pautas comuns, como a questão indígena e da Amazônia. A viagem de Lula será a segunda à Colômbia neste mandato. Petro, por sua vez, veio ao Brasil três vezes.
Os presidentes também vão abordar os últimos desdobramentos da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza. Lula e Petro vivem momentos de embate diplomático com Tel Aviv e já compararam a campanha militar israelense no território palestino ao “Holocausto”, provocando críticas da comunidade judaica.
Exportação de maconha medicinal para o Brasil
Como revelou o Estadão, o governo colombiano traçou uma rota para tentar abrir o mercado brasileiro a produtos medicinais derivados da maconha cultivada no país e quer discutir o assunto na reunião ampliada com Lula, Petro e respectivas equipes de governo.
O setor privado estima que, em 2025, o mercado brasileiro tenha potencial para representar US$ 123 milhões, com cerca de 3,4 milhões de pacientes que podem fazer usado de fármacos autorizados, a base do cannabidiol e extrato de canabis. O Brasil foi listado como um dos sete mercados na mira dos fabricantes da Colômbia.
O Palácio do Planalto reconheceu que existe uma proposta da Colômbia em discussão, embora tenha negado que seja “o propósito” da viagem de Lula ao país. A exportação efetiva depende de aval de autoridades sanitárias e de regras dos países, salientou a Presidência. É justamente isso que o governo Petro deseja abordar.
Um documento preparatório da visita presidencial, obtido pela reportagem, mostra que os colombianos querem discutir com o governo brasileiro a “homologação regulatória em matéria farmacêutica/acesso de cannabis medicinal de origem colombiana ao Brasil”.
No ano passado, uma delegação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), responsável por autorizar a entrada de fármacos no País, viajou a Bogotá e Medellín para conhecer os processos produtivos das plantações de maconha e dos laboratórios instalados nas colinas andinas.
Além do acesso ao Brasil de medicamentos derivados da cannabis, os colombianos também buscam a transferência de tecnologia para produção da vacina da dengue no país. O Instituto Butantan desenvolve atualmente um imunizante nacional, em terceira fase de estudos. Trata-se da a última fase antes do pedido do registro junto à Anvisa, o que deve ocorrer em setembro.
Os presidentes também vão conversar sobre a integração sul-americana e perspectivas para o funcionamento da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) e a implementação de objetivos firmados na Declaração de Belém (PA), durante a Cúpula da Amazônia, em agosto de 2023.
Ambos países vão sediar em breve as duas principais cúpulas climáticas e ambientais das Nações Unidas: a COP 16 da Biodiversidade ocorrerá em outubro em Cali; a COP 30, por sua vez, em novembro de 2025, em Belém.
Acordos
As diplomacias trabalham nos ajustes finais para que os presidentes possam assinar acordos sobre combate ao tráfico de pessoas, direitos humanos, cooperação cultural e entre bibliotecas nacionais, cooperação policial, desenvolvimento agrário, gestão de território e empreendedorismo e combate à fome.
Os dois governos devem discutir outros projetos comuns, como o acordo para interconexão com fibra ótica das cidades fronteiriças de Letícia, na Colômbia, e Tabatinga (AM), a interligação elétrica das Américas com fontes de energia renovável, por meio da ISA-CTEEP, e o acordo para homologação de convalidação de títulos universitários.
Integrantes dos dois governos vão conversar sobre a reativação de um projeto de corredor bioceânico, que ligue o Pacífico colombiano ao Atlântico brasileiro. O projeto de infraestrutura multimodal, por vias fluviais e terrestres, vem sendo discutido há anos e tem como marcos as ligações entre as cidades de Tumaco, Puerto Asís e Belém (PA). Os colombianos querem atrair investimento da China para alavancar a construção.
As agências de promoção de exportações e investimentos Apex Brasil e ProColombia devem reunir cerca de 300 pessoas em um Fórum Empresarial Brasil-Colômbia. Um dos objetivos é criar um conselho empresarial entre os países. Lula e Petro discursam no fim do seminário.
Eles irão ainda inaugurar a Feira Internacional do Livro de Bogotá (FilBo), que tem um pavilhão para expor a literatura brasileira, com participação de uma comitiva de 26 escritores, entre eles mulheres e indígenas. O Brasil é o País homenageado da 36ª edição.
Parlamentares brasileiros também viajam a Bogotá, assim como as ministras da Cultura, Margareth Menezes, e das Mulheres, Cida Gonçalves, entre outros, como o chanceler Mauro Vieira.