Os venezuelanos foram às urnas neste domingo (28) para decidir entre a continuidade do regime do presidente Nicolás Maduro ou uma mudança de rumo de um regime que levou ao sucateamento do crucial setor de petróleo, com consequente colapso econômico e à hiperinflação. Em meio à incerteza e elevada expectativa da oposição de conseguir derrotar o chavismo por meio de uma votação, apesar dos alertas sobre possíveis irregularidades, a eleição aparentemente ocorreu em um clima de tranquilidade.
Os locais de votação fecharam as portas às 19h (de Brasília), mas algumas seções estenderam o horário para que todas as pessoas na fila pudessem votar. Os primeiros resultados eram esperados para as 23h (de Brasília), mas o resultado final pode levar dias.
Após o fechamento das urnas o Ministério Público da Venezuela disse que dará uma entrevista coletiva à imprensa nesta segunda-feira (29) às 19h (de Brasília), para informar sobre a eleição presidencial.
O procurador-geral da Venezuela, Tarek Saab, disse à Reuters por meio de uma declaração à imprensa que não previa violência e que, exceto por alguns incidentes isolados, a votação tinha sido pacífica.
Em Caracas, os eleitores formaram filas muito antes da abertura das urnas. Muitos haviam chegado já na noite anterior. No fim da tarde, alguns já haviam se dispersado, com o processo sendo mais eficiente do que muitos esperavam.
Porém, em outras partes do país, testemunhas da oposição citaram dezenas de incidentes de detenções ou outras formas de intimidação, segundo a agência Bloomberg. Em algumas cidades, as juntas de fiscalização eleitoral foram unificadas sem aviso prévio, provocando lentidão no processo de votação em uma tentativa, segundo a oposição, de desmotivar as pessoas que esperavam na fila sob o sol quente.
A estrela dessa eleição foi a líder da oposição, María Corina Machado, apesar de estar proibida de ocupar cargos públicos, o que a forçou a passar o bastão para o candidato Edmundo González, um ex-diplomata de 74 anos conhecido por seu temperamento calmo. González recebeu apoio até mesmo de alguns ex-apoiadores do partido governante, mas a oposição e os observadores levantaram questões antes da votação sobre se ela seria justa, dizendo que as decisões das autoridades eleitorais e as prisões de funcionários da oposição visavam criar obstáculos.
Maduro — cuja reeleição em 2018 é considerada fraudulenta pelos Estados Unidos, entre outros — afirmou que a Venezuela tem o sistema eleitoral mais transparente do mundo e advertiu sobre um “banho de sangue” caso perca.
Pesquisas de opinião independentes davam o principal candidato da oposição, Edmundo González, uma vantagem de 20 a 30 pontos percentuais, enquanto outros institutos ligados ao governo apontavam a reeleição de Maduro para um terceiro mandato como presidente.
A presença de pequenas missões do Carter Center e da ONU, centenas de observadores locais, além de uma rede de cerca de 30 mil testemunhas voluntárias, pode desempenhar um papel na mitigação do risco de possíveis manipulações. Perto da eleição, a Venezuela retirou o convite para um grupo de observadores da mais robusto da União Europeia.
No início da noite, a vice-presidente americana e provável candidata democrata à Presidência, Kamala Harris, divulgou no X uma nota dizendo que os “EUA apoiam o povo da Venezuela, que expressou a sua voz nas eleições históricas de hoje [ontem]”. “A vontade do povo venezuelano deve ser respeitada. Apesar dos muitos desafios, continuaremos a trabalhar por um futuro mais democrático, próspero e seguro para o povo da Venezuela”, diz a mensagem de Kamala.